Amplamente falando, a palavra animal nomeia um ‘ser’ vivente organizado, que respira e é dotado de movimento e sensibilidade. O termo é formado por duas palavras do latim: ‘animalis’ (ser que respira) e ‘anima’ (fôlego vital, sopro de vida, alma, sentimento). Fazem parte do reino animalia (ou metazoa) os seres vivos pluricelulares vertebrados e invertebrados.
Nós, animais humanos, nos encontramos na primeira categoria, juntamente com todos os animais não-humanos que possuem sistema nervoso central: os mamíferos, aves, anfíbios, peixes e répteis.
Seres organizados
A característica mais importante dos animais vertebrados é a coluna de vértebras (daí o nome), e o cérebro bem desenvolvido, coberto por uma estrutura óssea chamada de crânio. Essa coluna, uma espinha dorsal única, faz parte do esqueleto interno – que pode ser ósseo ou cartilaginoso – e corre ao longo do corpo entre as regiões craniana e caudal, por onde passa um tubo oco de tecido nervoso, a medula espinhal. Os vertebrados ainda se assemelham por possuírem o sistema circulatório fechado, um coração localizado ventralmente, corpos bilateralmente simétricos e um sistema nervoso complexo e sofisticado.
Seres que respiram
Os seus sistemas respiratórios funcionam com pulmões ou brânquias (no caso dos animais marinhos) para a troca de gases entre o organismo e o meio ambiente. A respiração é um processo vital para a manutenção da vida dos animais, e ocorre na presença de oxigênio. Por meio desse processo fisiológico, os organismos vivos inalam O2 e soltam dióxido de carbono, mantendo o processo pelo qual as células liberam a energia indispensável para a queima dos alimentos que mantém os animais vivos.
Seres com alma?
Há quem duvide, há quem questione, há quem negue. Etimologicamente, a presença de ‘anima’ na palavra animal já seria indicativo de que os animais não-humanos também podem ter alma (pensamentos e sentimentos). Não necessariamente como manifestações de uma substância autônoma ou parcialmente autônoma em relação à materialidade do corpo (geralmente chamado de espírito), mas como uma forma consciência, à nossa semelhança. Para os céticos, a ciência deu a isso um nome: ‘senciência’.
Seres sencientes!
Em 2012, um grupo de renomados especialistas das áreas de neurociência cognitiva, neurofarmacologia, neurofisiologia, neuroanatomia e neurociência computacional se reuniram na Universidade de Cambridge, em Londres, para confirmar a existência de consciência em animais humanos e não-humanos. O documento, declarado publicamente na presença do cientista mais consagrado do século XXI, Stephen Hawking, ficou conhecido como ‘Tratado de Cambridge’.
Leia o texto:
“Neste dia 7 de julho de 2012, um proeminente grupo internacional de neurocientistas, neurofarmacologistas, neurofisiologistas, neuroanatomistas e neurocientistas computacionais cognitivos reuniu-se na Universidade de Cambridge para reavaliar os substratos neurobiológicos da experiência consciente e comportamentos relacionados em animais humanos e não humanos.
Embora a pesquisa comparativa sobre esse tópico seja naturalmente dificultada pela inabilidade dos animais não humanos, e muitas vezes humanos, de comunicar clara e prontamente os seus estados internos, as seguintes observações podem ser afirmadas inequivocamente:
– O campo da pesquisa sobre a consciência está evoluindo rapidamente. Inúmeras novas técnicas e estratégias para a pesquisa com animais humanos e não humanos tem se desenvolvido. Consequentemente, mais dados estão se tornando disponíveis, e isso pede uma reavaliação periódica dos preconceitos previamente sustentados nesse campo. Estudos com animais não humanos mostraram que circuitos cerebrais homólogos, correlacionados com a experiência e à percepção conscientes, podem ser seletivamente facilitados e interrompidos para avaliar se eles são necessários, de fato, para essas experiências. Além disso, em humanos, novas técnicas não invasivas estão prontamente disponíveis para examinar os correlatos da consciência.
– Os substratos neurais das emoções não parecem estar confinados às estruturas corticais. De fato, redes neurais subcorticais estimuladas durante estados afetivos em humanos também são criticamente importantes para gerar comportamentos emocionais em animais. A estimulação artificial das mesmas regiões cerebrais gera comportamentos e estados emocionais correspondentes tanto em animais humanos quanto não humanos. Onde quer que se evoque, no cérebro, comportamentos emocionais instintivos em animais não humanos, muitos dos comportamentos subsequentes são consistentes com estados emocionais conhecidos, incluindo aqueles estados internos que são recompensadores e punitivos. A estimulação cerebral profunda desses sistemas em humanos também pode gerar estados afetivos semelhantes. Sistemas associados ao afeto concentram-se em regiões subcorticais, onde abundam homologias neurais. Animais humanos e não humanos jovens sem neocórtices retêm essas funções mentais-cerebrais. Além disso, circuitos neurais que suportam estados comportamental-eletrofisiológicos de atenção, sono e tomada de decisão parecem ter surgido evolutivamente ainda na radiação dos invertebrados, sendo evidentes em insetos e em moluscos cefalópodes (por exemplo, polvos).
– As aves parecem apresentar, em seu comportamento, em sua neurofisiologia e em sua neuroanatomia, um caso notável de evolução paralela da consciência. Evidências de níveis de consciência quase humanos têm sido demonstradas mais marcadamente em papagaios-cinzentos africanos. As redes emocionais e os microcircuitos cognitivos de mamíferos e aves parecem ser muito mais homólogos do que se pensava anteriormente. Além disso, descobriu-se que certas espécies de pássaros exibem padrões neurais de sono semelhantes aos dos mamíferos, incluindo o sono REM e, como foi demonstrado em pássaros mandarins, padrões neurofisiológicos, que se pensava anteriormente que requeriam um neocórtex mamífero. Os pássaros pega-rabuda [1] em particular demonstraram exibir semelhanças notáveis com os humanos, com grandes símios, com golfinhos e com elefantes em estudos de autorreconhecimento no espelho.
– Em humanos, o efeito de certos alucinógenos parece estar associado a uma ruptura nos processos de feedforward e feedback corticais. Intervenções farmacológicas em animais não humanos com componentes que sabidamente afetam o comportamento consciente em humanos podem levar a perturbações semelhantes no comportamento de animais não humanos. Em humanos, há evidências para sugerir que a percepção está correlacionada com a atividade cortical, o que não exclui possíveis contribuições de processos subcorticais, como na percepção visual. Evidências de que as sensações emocionais de animais humanos e não humanos surgem a partir de redes cerebrais subcorticais homólogas fornecem provas convincentes para uma qualia [2] afetiva primitiva evolutivamente compartilhada.
Nós declaramos o seguinte: “A ausência de um neocórtex não parece impedir que um organismo experimente estados afetivos. Evidências convergentes indicam que animais não humanos têm os substratos neuroanatômicos, neuroquímicos e neurofisiológicos de estados de consciência juntamente como a capacidade de exibir comportamentos intencionais. Consequentemente, o peso das evidências indica que os humanos não são os únicos a possuir os substratos neurológicos que geram a consciência. Animais não humanos, incluindo todos os mamíferos e as aves, e muitas outras criaturas, incluindo polvos, também possuem esses substratos neurológicos”.
A senciência animal nos mostra que os animais não-humanos são indivíduos com a capacidade de perceber sensações e sentimentos de forma consciente, como sentir dor ou afeto. Aceitar esse fato é enxergar que os animais têm sua própria forma de inteligência, comunicação e organização social. E, especialmente por essa razão, é um dever moral da Humanidade assegurar-lhes o direito à vida livre de sofrimento e com a liberdade para expressarem seus comportamentos naturais.
Por tudo isso, hoje, dia 4 de Outubro, convidamos você a refletir e a mudar sua forma de ver, tratar e considerar os bichos, especialmente à luz da sua consciência sobre a dor, já que quase todos os seres vertebrados portadores de sistema nervoso central têm sido explorados pelo ser humano na indústria, entretenimento, trabalho, alimentação, sendo vítimas de crueldades cada dia mais bárbaras.
Animais são seres vivos dotados das capacidades de movimento, organização, percepção e sentimentos que vão além dos instintos básicos (fome, sede, frio, calor), e compartilham com a gente – animais humanos! – de sentimentos como dor, afeto, medo e amor.
Animal sente. Animal sofre. Animal não é coisa. E se não é coisa, não é objeto, não é mercadoria, não é alimento, não é roupa, não é decoração, não é descartável, não é superfície para testes cosméticos e produtos químicos, não é entretenimento em circos e zoológicos, não é natural nascer em cativeiro.
Fontes: Declaração de Cambridge | Ética Animal | Dicionário Etimológico | Wikipedia
Leave a reply
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.