A série de perguntas, ouvidas repetidamente na voz grave do locutor de uma emissora de tv ao anúncio de cada novo programa, dá o tom curioso e o toque de humor ao título desta publicação. Afinal, o veganismo está crescendo no Brasil e no mundo, então é bom conhecer mais sobre essa ‘raça’ de animal-humano: os veganos.
Quem são os veganos?
São animais da espécie humana que optaram por uma alimentação estritamente vegetariana. Não, nem peixe! Mel também não. Ovos, gelatina, colágeno, queijo… esquece. Se é o bicho ou se ‘vem’ do bicho, não entra no cardápio. Aliás, não entra no vestuário, na estética, na decoração, nos produtos de higiene pessoal, materiais de limpeza, tão pouco no entretenimento ou comércio. Veganos não consomem nada que seja resultado da exploração de animais.
Na prática, isso significa que veganos não compram couro, nem travesseiros com penas de gansos, nem roupas de lã ou lençóis de seda. Não consomem produtos de beleza com colágeno, sabonetes com glicerina animal ou produtos contendo corante carmim 40, feito do inseto Cochonilla. Sim, veganos lêm rótulos de ingredientes à exaustão, se informam e se atualizam constantemente sobre produtos alternativos aos que possuem derivados de animais em suas formulações.
Também não vão à zoológicos, aquários, circos com animais, passeios em charretes puxadas à cavalos, rodeios, vaquejadas e quaisquer atrações que exploram bichos em comportamentos anti-naturais e abusivos.
A lista do que os veganos não fazem parece grande, à primeira vista. Talvez seja por isso que a maioria dos não-veganos os considerem radicais e extremistas. Mas o que muitos não sabem ou ignoram é que a lista das coisas que eles fazem, consomem e curtem é tão extensa, rica e prazerosa quanto à de qualquer indivíduo. A vida de quem opta pelo veganismo é normal, a grande diferença é que essa filosofia de vida exclui o sofrimento animal de suas escolhas.
Como vivem?
Veganos vão ao cinema, teatro, barzinho, shows, exposições, baladas, programas culturais e festinhas de amigos. Sim, inclusive há veganos que frequentam aquele churras na casa dos amigos porque, pasmem, veganos têm amigos não-veganos!
É óbvio que nesse tipo de confraternização, um vegano se torna alvo de inúmeros questionamentos e piadinhas sobre a ‘dor das alfaces’, as teorias dos especialistas em nutrição (#sóquenão) sobre a vida sem proteína animal não ser possível para a saúde humana, ou sobre a nossa ‘superioridade’ na cadeia alimentar, entre outros argumentos infames ou ultrapassados, usados apenas para irritar quem é vegano.
Mas esse ‘bullying’ faz parte. Veganos bom de papo sabem tirar proveito tanto das provocações fúteis quanto das indagações sinceras para apresentar sua visão de mundo de maneira sútil e coerente. Afinal, sempre que a presença de um vegano causa comoção, apresenta-se uma ótima oportunidade de colocar em prática o que eu chamo de ‘informativismo’: rir da piada e rebater, educadamente, com ativismo bem informado. Na maioria das vezes, o tom da conversa muda e fica plantada uma sementinha. Acreditem, às vezes essa sementinha até germina, amadurece e dá lugar a um novo ‘comedor de alface’. Ou muitos!
Se é importante falar sobre o que os veganos não comem, mais importante é falar sobre tudo o que eles comem. A alimentação vegana é riquíssima em sabores, cores, texturas e nutrientes. Muitos veganos preferem orgânicos, mas nem todos se prendem à essa alternativa. Outros seguem uma dieta vegana crudívora, onde os alimentos são em sua maioria crus, germinados ou cozidos até no máximo 180o. Há também os veganos junkie, que não se importam de comer mal desde que não machuquem nenhum animal.
Veganos tem uma riquíssima paleta de alimentos vegetais: legumes, grãos, cereais, sementes, nozes, castanhas, cogumelos, frutas, temperos, ervas, folhas, massas, farinhas, açúcares, flores, até plantas comestíveis não convencionais (as chamadas P.A.N.C.s) fazem a alegria de veganos – e de não-veganos que decidem se aventurar nesse paladar livre de animais e derivados. Doces, salgados, naturais, congelados, as alternativas estão cada dia mais disponíveis e mais acessíveis.
As ofertas no vestuário também, valorizando todos os estilos e matérias-primas, sejam elas naturais ou sintéticas. Cosméticos à base de minerais, isentos de toxinas comuns na indústria em geral, aumentam a cada dia e, óbvio, já existe toda uma geração de produtos que não testa em animais. Coelhinhos e outros peludinhos agradecem.
De onde vêm e para onde vão?
Veganos não são necessariamente místicos, naturebas, hippies, celebridades, gurus ou superpoderosos. O veganismo não é sobre ser saudável, ser evoluído ou ser sociável. Não adianta estereotipar, tem vegano de todas as formas, pensamentos, orientações, tamanhos, experiências, profissões, pesos e alturas. Há os sedentários, os esportistas, os atletas de ponta, campeões. Atores, músicos, professores, advogados, médicos, nutricionistas, garis, estudantes, desempregados, cozinheiros, sonhadores. Há os engajados em outras causas e os acomodados em suas casas. Tem vegano inspirador, otimista, cientista. Tem até vegano que distrata sua própria espécie, infelizmente, fazendo um desserviço à causa.
O que não existe são veganos perfeitos. Porque querendo ou não, todo vegano é, antes de tudo, um ser humano.
“Ser vegano não me faz uma pessoa melhor que as outras, mas me faz uma pessoa melhor do que eu costumava ser.” – Colleen Patrick-Goudreau |
Veganismo não é moda, nem é passageiro. Não é estilo de vida, é filosofia. Não é uma forma de governo, mas impacta políticas públicas. Não é um sistema econômico, mas evidencia a necessidade de um novo modelo de produção e também de consumo: mais justo, humanitário, solidário e sustentável.
Tão desafiador quanto mudar o sistema sociocultural e econômico que há séculos é a ‘norma’, é mudar o nosso sistema interno de valores, costumes e tradições. Talvez por isso, o veganismo dialogue com tantas outras causas: capitalismo, machismo, racismo, especismo, xenofobismo, e tantas outras causas humanas. Humanitárias.
No final das contas, o veganismo é um fenômeno ético que reinvidica uma revolução moral:
A libertação animal.
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